O envelhecimento populacional é uma realidade com a qual a sociedade e o Estado se deparam. Nos âmbitos mais restritos o impacto desta situação se revela: a bisavosidade está presente na família e as crianças hoje convivem com bisavós, entrando em contato com quatro gerações. O cenário demográfico – pelo Censo de 2022 (IBGE, 2023), o número de pessoas com 65 anos ou mais de idade cresceu 57,4% em 12 anos – favorece a vivência multigeracional dentro das famílias, podendo ser encontradas nelas quatro ou até cinco gerações convivendo.
Em nível individual, o processo de envelhecimento e a condição de ser idoso constituem uma experiência e uma fase do ciclo de vida da pessoa. Muitos se aposentam e não deixam de trabalhar porque o mercado busca por empregados experientes; as Universidades da Maturidade oferecem oportunidade de educação continuada e as Instituições de Ensino Superior recebem, cada vez, mais alunos sêniores; os grupos de apoio, as redes de cultura, as vilas residenciais, tornaram-se opções que minoram as situações de isolamento e abandono.
Entretanto, a sociedade, como um todo, ainda necessita refletir a respeito do aumento generalizado da esperança de vida, associado à diminuição da fecundidade, trazendo consequências complexas com custos individuais e coletivos . Assim, o envelhecimento da população, apresenta-se como um fenômeno social único com uma dimensão global e representa simultaneamente um desafio político, socioeconômico e da saúde, para o qual ainda não temos as respostas.
Na cultura contemporânea, o culto à juventude alimenta estereótipos negativos sobre o envelhecimento, frequentemente sugerindo que envelhecer é algo a se evitar. As pessoas idosas são comumente retratadas em papéis de passividade ou dependência, o que reforça leituras estereotipadas e negativas, gerando um novo preconceito social: O ageísmo. Este termo significa preconceito ou discriminação contra um grupo etário específico, especialmente os idosos. Pode também ser significado como preconceito ou discriminação com base na idade de uma pessoa. Especificamente, discriminação contra pessoas por serem idosas. A exclusão digital emerge como manifestação de ageísmo com efeitos sobre dignidade e autonomia. Em ambiente social crescentemente digital, muitas pessoas idosas enfrentam barreiras de acesso e de uso de tecnologias, o que restringe o acesso a serviços, a participação econômica e cívica e pode intensificar o isolamento.
Este é o grande desafio que se nos apresenta o fenômeno da longevidade: Conviver com os idosos, valorizando-os e respeitando-os, considerando a contribuição que deram e que ainda podem oferecer à família e à sociedade, permitindo que cultivem um sentimento de realização ao longo dos anos.
Precisamos encontrar um propósito para a velhice !
Júlia Eugênia Gonçalves é Mestra em Educação. Autora do livro “Psicopedagogia Para Adultos e Idosos” (Wak Editora)