16 de novembro de 2025
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O autismo é uma condição neurobiológica que afeta o desenvolvimento social, comportamental e comunicativo dos indivíduos. Ao longo dos anos, o conhecimento sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem evoluído, e com ele a forma como a sociedade lida com os autistas. O lema da campanha deste ano, “Informação Gera Empatia, Empatia Gera Respeito”, reflete uma abordagem fundamental para a inclusão dessas pessoas: a disseminação de conhecimento e a promoção de uma postura empática e respeitosa para com a diversidade humana.

A psicanálise, como campo que busca compreender os processos psíquicos, oferece importantes contribuições para a compreensão do autismo. Freud (1913), o fundador da psicanálise, inicialmente associou o autismo a questões emocionais e de desenvolvimento precoce, uma visão que, com o tempo, foi sendo revista à medida que os estudos em neurociências avançaram. Contudo, a psicanálise continua relevante no contexto do autismo, pois ela permite uma compreensão profunda das dificuldades e potências psíquicas desses indivíduos.

A partir da psicanálise, é possível perceber que o autismo não deve ser visto como uma “deficiência” ou uma “anormalidade”, mas sim como uma maneira diferente de viver o mundo. Cada pessoa com autismo possui uma forma única de perceber e se relacionar com o ambiente e as outras pessoas. Esse entendimento é fundamental para a construção de uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.

A campanha deste ano, ao trazer o lema acima já supracitado, destaca que o primeiro passo para uma convivência mais harmoniosa com as pessoas com autismo é a disseminação do conhecimento. Quando as pessoas compreendem o que é o autismo, elas se tornam mais aptas a respeitar as diferenças e a apoiar os indivíduos autistas de forma adequada. A informação é, portanto, a chave para desmistificar o autismo e para combater o estigma e a exclusão que muitas vezes cercam essas pessoas.

A empatia, por sua vez, é o ponto de partida para a construção de uma sociedade mais justa. Ao se colocar no lugar do outro e tentar entender sua perspectiva, somos capazes de perceber as necessidades específicas dos autistas, respeitando suas limitações e reconhecendo suas habilidades e potências. A psicanálise, ao explorar os processos emocionais e subjetivos, nos ensina que a empatia não é apenas uma atitude superficial, mas uma profunda compreensão das experiências psíquicas e emocionais do outro.

O respeito, como culminância do processo de informação e empatia, implica em reconhecer a autonomia do indivíduo autista, respeitar seus direitos e apoiar seu desenvolvimento de acordo com suas próprias capacidades e ritmos. O respeito, nesse contexto, se traduz na criação de ambientes inclusivos e na oferta de recursos adequados para que o autista possa se desenvolver de forma plena, em harmonia com suas próprias necessidades e limites.

É importante ressaltar que, a inclusão social do autista não depende apenas da informação e da empatia da sociedade em geral, mas também de práticas educacionais, familiares e terapêuticas que sejam sensíveis às especificidades do autismo. A psicanálise, ao oferecer uma escuta cuidadosa e uma interpretação dos conflitos internos do autista, pode ser uma ferramenta valiosa nesse processo de inclusão.

Diversos estudos psicanalíticos abordam o autismo sob diferentes perspectivas. Melanie Klein (1975, p.244), por exemplo, fez importantes contribuições ao descrever o autismo como um mecanismo de defesa primitivo frente a experiências emocionais avassaladoras. Essa visão sugere que, em vez de ver o autismo como uma barreira, é possível compreender o comportamento autista como uma forma de proteção do indivíduo frente a um mundo emocionalmente difícil. Esse entendimento abre caminho para intervenções terapêuticas que respeitem o psiquismo do autista e favoreçam seu desenvolvimento.

A campanha deste ano, ao enfatizar a relação entre informação, empatia e respeito, oferece um convite para que a sociedade reconsidere suas práticas e atitudes diante do autismo. A psicanálise, ao iluminar os aspectos subjetivos do transtorno, fortalece a importância de uma abordagem que, ao invés de tratar o autismo como uma condição a ser corrigida, busca acolher o indivíduo em suas especificidades.

Em conclusão, a campanha “Informação Gera Empatia, Empatia Gera Respeito” nos lembra que o autismo não é um problema a ser solucionado, mas uma realidade a ser compreendida e respeitada. A psicanálise, com suas ferramentas de escuta e interpretação, oferece uma lente valiosa para compreender os desafios internos dos autistas, permitindo que possamos, como sociedade, caminhar para um futuro mais inclusivo e empático, onde as diferenças são reconhecidas e respeitadas como uma parte essencial da diversidade humana.

Dr. Richard Munhoz é psicanalista Clínico e Infantil, especialista em Análise e Interpretação do Desenho, psicopedagogo, neuropsicopedagogo, mestre e doutor em Ciências Médicas. 

Sarah Alves Munhoz – Psicanalista Clínica e Infantil. Especialista em Análise e Interpretação do Desenho – Testes Projetivos e Sandplay Therapy – Psicologia Analítica. Cursos de aprofundamento nas áreas da Psicologia aplicada à teoria psicanalítica. Psicopedagoga Clínica e Institucional. Técnica em assistente administrativo. Especialista em Neuropsicologia, transtornos depressivos e ansiosos e PNL.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KLEIN, M. (1975). Envy and Gratitude and Other Works 1946-1963. The Hogarth Press and the Institute of Psycho-Analysis.

FREUD, S. (1913). On Narcissism: An Introduction. Standard Edition, 14.

BRASIL, Ministério da Saúde. (2012). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Transtorno do Espectro Autista.

SANTOS, C. (2019). Autismo e Psicanálise: Perspectivas e Práticas Terapêuticas. Editora Psicanálise.

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